Tatiane Almeida de Aguiar / Equipe de Comunicação Popular da JURA

Participando pela primeira vez de um evento público desde sua criação, representantes do Programa Estadual de Proteção aos/às Defensores/as dos Direitos Humanos de Mato Grosso (PPDDH-MT) realizaram a roda de conversa Políticas Públicas, durante a feira Saberes e Sabores da Terra. A roda teve como objetivo debater a principal missão do programa, que é fazer com que as pessoas que estejam no campo sejam protagonistas dos seus direitos.

A feira ocorreu nos dias 12 e 13 de maio, na praça Alencastro, Centro de Cuiabá, e integra a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA), que se estende até o mês de setembro com várias ações sob o tema “Reforma Agrária Popular e Projeto de País”. Participaram da roda de conversa, o público que passava pela praça e acompanhava o evento, assim como professores e estudantes que estavam ali presentes.

De acordo com a psicóloga e representante do PPDDH-MT, Eleonora Maria de Queiroz Bondespacho, o programa tem a finalidade de acompanhar as pessoas que estão sendo ameaçadas no campo, diminuir os conflitos agrários e ameaças de morte, assegurar que defensores/as de direitos humanos, comunicadores/as e ambientalistas exerçam sua militância em segurança e, principalmente, garantir a paz no campo, não permitindo que as instituições se silenciem. A psicóloga explica ainda que o programa incentiva com que moradores/as de zona rural e moradores/as de aldeias indígenas tenham conhecimento dos seus direitos como seres humanos, e tenham resistência dentro do seu meio.

“Para nós é uma honra participar do evento. O programa começou em 2021 no Estado de Mato Grosso e a JURA é o primeiro evento em que oficialmente o programa participa. Hoje a gente vem para falar de um programa tão importante. Achamos que dialoga profundamente com os agricultores, produtores e pessoas que estão aqui como participantes”, declarou.

Durante a roda, foram pregadas folhas no chão com fita, contendo relatos de moradores/as da zona rural e povos indígenas que já sofreram ameaças e agressões. Essas pessoas ainda sofrem com a falta de hospitais para uma saúde digna ou pela falta de transportes adequados até os hospitais mais próximos. Um dos relatos expostos dizia assim: “Não chega nada aqui. Um dia tive que colocar uma menina com convulsão no carrinho de mão de noite, com uma lanterna, caminhamos até chegar na estrada de asfalto e pedir carona, foram mais de 30 quilômetros”.

Todas as pessoas que participaram da roda tiveram que escolher uma folha com um relato e lê-lo em voz alta. No decorrer do encontro, houve vários relatos de vivências e situações em que pessoas ali presentes já vivenciaram. Foram questionados/as também sobre o fortalecimento da segurança pública na área rural e sobre a demarcação de terras indígenas em determinadas situações conflituosas.

Nas frases que foram trazidas na roda de conversa, algumas se destacavam: “Temos Esperança da Gente Ter Paz!”; “Precisamos Ajudar o Jovem e as Crianças Sobre a Nossa Luta no Campo, Não Podemos Baixa a Cabeça Não…”; “Eu Não Sei Ler, Mas Sei Muita Coisa Sobre os Meus Direitos e Direitos da Comunidade”.

A moradora da cidade de Cuiabá, Matilde Martins, de 33 anos, caminhava pela praça quando resolveu participar da roda de conversa. “É de grande importância esse debate em praça pública, pois, muitas vezes, não temos conhecimento dos nossos direitos. Tenho um irmão que produz e vende verduras no campo e também já passou por ameaças. Eu estou encantada com o comprometimento e de toda a cultura que é trazida a esse evento”, ressaltou.

Conflitos no Campo –Eleonora deixou como sugestão de leitura para os participantes o livro “Conflitos no Campo Brasil 2021”. O livro é publicado anualmente com relatos atualizados do ano anterior. O relatório traz ocorrências e evidências de conflitos no campo. O livro contém vários relatos de conflitos registrados no ano de 2021, conflitos tanto por água, trabalho escravo, ameaças, mortes no campo, entre outros. O relatório do ano de 2021 divulga os estados do país com os maiores números de conflitos no campo registrados: o Pará – 156, Bahia – 134, Maranhão – 97, Pernambuco – 88 e Mato Grosso – 79.

Para mais informações sobre os relatórios e como adquirir o livro, acesse: https://www.cptnacional.org.br/publicacoes-2/destaque/6001-conflitos-no-campo-brasil-2021

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