Aconteceu, de 20 a 24 de agosto de 2019, o VII Simpósio de Estudos de Língua Portuguesa (SIMELP), em Porto de Galinhas (PE), o qual reuniu representantes de 27 países e de todos os estados brasileiros, para discutir trabalhos acerca da língua portuguesa no cenário mundial. Entre os 2.849 participantes, seis dos professores do curso de Letras da UNEMAT/Tangará da Serra estavam presentes, e apresentaram/divulgaram algumas das pesquisas que desenvolvem na instituição, a saber:

Profa. Dra. Bárbara Cristina Gallardo
PRÁTICAS DE LEITURA E ESCRITA NA INTERNET: CONTRIBUIÇÕES E QUESTIONAMENTOS PARA PROPOSIÇÃO DE PRÁTICAS CURRICULARES

Neste estudo, apresentamos uma amostragem do desempenho de alunos do ensino médio de duas escolas, na identificação de problemas de ordem gramatical, em quatro posts publicados na rede social Facebook. O objetivo é comparar o desempenho dos dois grupos e verificar sua competência na reescrita, tendo a norma padrão da língua portuguesa como parâmetro. As características e o estabelecimento da escrita e da cibercultura embasam o estudo, que propõe o planejamento de aulas que contemplem textos produzidos em ambientes digitais, e o trabalho de identificação do contexto de situação, segundo a Gramática Sistêmico-Funcional (GSF). Trata-se um estudo de caso piloto, quantitativo e exploratório. Analisamos o desempenho de 20 estudantes do 1º ano de ensino médio na correção dos posts. Os resultados mostraram um melhor desempenho dos estudantes da escola privada, mas, no geral, o desconhecimento dos dois grupos de algumas regras gramaticais básicas da norma padrão. 

Prof. Dr. Flávio Roberto Gomes Benites
MAPAS DE SENTIDOS EM CADERNOS DE MEMÓRIAS

Como parte integrante do projeto de pesquisa “Entre a pertença e o exílio: língua e exclusão em discursos sobre a migração em Mato Grosso”, cujo estágio está em desenvolvimento, e sob o financiamento do CNPq, neste trabalho, pretendemos apresentar resultados de análise sobre a constituição de sentidos no processo de nomeação de ruas em Tangará da Serra, no Estado de Mato Grosso. Para a realização desta tarefa, temos como base teórica de discussão o ponto de vista discursivodesconstrutivista e a metodologia é de cunho bibliográfico. A partir dessa contextualização, fizemos o levantamento da história dos chamados pioneiros da cidade de Tangará da Serra, considerando como objeto de estudo três fascículos com o título “Memória: uma coletânea de reportagens publicadas no Diário da Serra sobre topônimos tangaraenses”. Uma observação importante a se registrar é que as ruas da cidade foram, primeiramente, registradas com números, que continuam sendo a referência do endereçamento para os moradores até hoje, apesar de receber, posteriormente, nomes de pessoas tidas como importantes na fundação e estruturação da cidade. Com uma primeira visada nessas narrativas, nessas letras, é possível vermos que, sob os números de ruas, escondem-se memórias que insistem em lutar contra o esquecimento provocado, talvez, pela frieza dos números.

Profa. Dra. Marta Helena Cocco e Prof. Me. Isaías Munis Batista
MULTILETRAMENTOS NA FORMAÇÃO DO FUTURO PROFESSOR DE LETRAS

Neste trabalho apresentamos um projeto de multiletramentos em desenvolvimento no curso de Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso, câmpus de Tangará da Serra. O objetivo é demonstrar como foram planejadas as atividades em língua portuguesa, literatura e em tecnologias digitais, a fim de discuti-lo com pesquisadores de outras IES para aprimorá-lo com críticas, sugestões e ou adaptações. O trabalho foi norteado pelo conceito de multiletramentos adaptado por Rojo, pela abordagem dialógica e interacionista de língua de Bakhtin e pela perspectiva de ensino de literatura preconizada pela Estética da Recepção, entre outros caminhos teóricos. Também serão apresentados os diagnósticos iniciais de avaliação de produção de leitura e de escrita, de avaliação do manuseio de algumas ferramentas digitais, e os planos de intervenção com estratégias diversificadas, conforme o desempenho individual dos acadêmicos.

Profa. Dra. Milena Borges de Moraes
MANUTENÇÃO E MUDANÇA LEXICAL DO PORTUGUÊS POR MEIO DO NEOLOGISMO SEMÂNTICO: UM ESTUDO DIACRÔNICO

Ancorado no simpósio Mudança lexical no português ao longo dos séculos, o presente trabalho tem por objetivo apresentar um estudo semântico-lexical de unidades lexicais extraídas de um manuscrito datado de 1800 produzido na Capitania de Mato Grosso, Brasil, e testadas in loco no município de Cáceres, Mato Grosso, especificamente os casos evidenciados como neologismo semântico. Para isso, vislumbramos como as unidades lexicais, consideradas oriundas de um neologismo semântico, estão registradas e significadas no contexto de uso registrado no manuscrito, em dicionários do século XVIII, XIX, XX e XXI, e do falante cacerense hodierno. Para tanto, mobiliza teorias e métodos da lexicologia e lexicografia. Os resultados obtidos revelam que uma das formas de reorganização estrutural do léxico da língua portuguesa no Brasil ocorre por meio de reaproveitamento de unidades lexicais já existentes na língua e atribuição de um novo significado a elas, denominado como “neologismo semântico”. Esse indício contribui para a constatação de que a criatividade lexical, como sinal evidente da vitalidade da língua e necessidade à ampliação e/ou à renovação do léxico para atender às necessidades do falante, perpassa também pela reutilização de unidades lexicais já existentes no português brasileiro. Além disso, o presente estudo contribuiu para a constatação da memória linguística preservada do português oitocentista no acervo lexical do cacerense, demonstrando o caráter polissêmico da língua que caracteriza o enriquecimento do léxico e a condição essencial da sua existência (ULLMANN, 1964-1973).

Profa. Dra. Rejane Centurion Gambarra e Gomes
NOMEAÇÃO DO NATIVO EM DOCUMENTOS DOS SÉCULOS XVI E XVIII: PROPOSIÇÃO DE UMA TRILHA LÉXICO-DISCURSIVA

O objetivo desta comunicação é divulgar resultados de pesquisas que priorizam investigar a nomeação ao nativo brasileiro na interface léxico e discurso. O ponto de partida foi o estudo desenvolvido em nossa pesquisa de doutorado, junto ao programa de Filologia e Língua Portuguesa, da USP, a partir da obra Historia da prouincia Sãcta Cruz a que vulgarmete chamamos Brasil, de Pero Magalhães de Gândavo (1576). Após isso, institucionalizamos, na UNEMAT, o projeto de pesquisa “Léxico e discurso na capitania de Mato Grosso: nomeação sobre o nativo brasileiro”, com vigência entre 2016 e 2019, reunindo trabalhos que tratam da nomeação do nativo, tomando documentos que circularam na referida capitania, no século XVIII, período de sua criação, entre os quais o manuscrito Memoria Sobre o Plano de Guerra Offensiva e Deffensiva da Capitania de Matto Grosso, de Ricardo Franco de Almeida (1800). A partir da seleção de unidades lexicais (nos dois documentos), da classe dos substantivos e adjetivos, relacionadas ao nativo e seus referentes, foram realizadas análises estruturais tomando pressupostos teóricos da Lexicologia e Lexicografia. Em seguida, foram mobilizados conceitos da Análise de Discurso, de forma a procurar ler, pelo léxico, alguns movimentos do discurso na história, tendo, dessa forma, investigações que nos permitiram entender que, assim como fonemas e palavras seguiram uma certa trilha junto à formação do português brasileiro, conforme apontam resultados de pesquisa do projeto nacional “Para a História do Português Brasileiro”, pode ter ocorrido algo semelhante com o discurso, nos levando a propor que o emprego de determinadas unidades lexicais pode ter contribuído para a irrupção de discursos, hoje, estabilizados, acerca do nativo brasileiro. Além dos documentos supracitados, consideramos resultados/dados de pesquisa de demais membros do projeto. Como fundamentação teórica, utilizamos Biderman (1999), Bluteau (1712-1721), Coseriu (1977), Pêcheux (1997), entre outros.