Atividade faz parte do Fórum da Terra como princípio educativo e reúne pesquisadores de universidades nacionais e internacionais

Por Miguel Rodrigues Netto – Jornalista Tangará da Serra

Na segunda-feira, 27 de junho de 2022 ocorreu no auditório do Campus Universitário professor Eugênio Carlos Stieler a roda de conversa “Ensino, pesquisa e extensão a partir de uma universidade socialmente referenciada: uma celebração por uma educação emancipatória”. A atividade faz parte de um conjunto de ações que integram o 3º Fórum da Terra como princípio educativo. Esse grupo reúne pesquisadores da Unemat e das universidades federais de Mato Grosso (UFMT), de Santa Maria (UFSM) e do Rio de Janeiro (UFRJ).

A atividade começou com a narrativa do percurso histórico do projeto que remonta aos anos 2000 quando pesquisadores da Unemat e da educação básica se reuniram para pensar a educação escolar culturalmente pertinente. A partir daí as ações se multiplicaram com a Unemat realizando em 2003 o Fórum de Educação e Diversidade. A perspectiva que emana desta iniciativa é a de que os saberes socialmente constituídos no ocidente não devem ser os únicos a compor o currículo. A escola nesta perspectiva precisa ser outra e não apenas atrelada a reprodução dos desígnios do capital, mas que atendesse aos princípios de conquista e permanência na terra.

Um dos principais desafios relatados pelos pesquisadores é o de colocar a questão da sustentabilidade no centro do programa pois a temática divide opiniões mesmo em setores mais progressistas da sociedade e também entre os indígenas e por isso se faz necessário para ações futuras a ampliação do Coletivo da Terra que reúne pesquisadores, organismos e movimentos sociais e com isso a criação de uma rede capaz de dar capilaridade aos debates, encaminhamentos e ações.

A professora Julieta Zurita da Universidad Mayor de San Simon – Cochabamba/Bolívia no ensino de licenciatura intercultural e língua quéchua abrilhantou o encontro apresentando suas percepções em língua espanhola. Ela começou dizendo que é necessário falar com o coração e que sente empatia pelos pesquisadores porque a história dos povos colonizados é a mesma e suas angústias se assemelham na tentativa constante de romper com o conhecimento hegemônico. Ela ressaltou que é necessário um professor que seja capaz de mudar a sociedade por meio do conhecimento e que frente a globalização a diversidade é a única alternativa.

Ela fez uma verdadeira imersão nas línguas nativas dos povos indígenas andinos com destaque para o quéchua e o aimará falado por grande parte dos bolivianos. A professora apresentou experiências educativas na educação básica e na universidade e afirmou que “nuestros pueblos, nuestras lenguas y nuestras culturas simpre lo fuéron subordinadas” (“em traduação livre: “nossos povos, nossas línguas e nossas culturas sempre foram subordinadas”).

A pesquisadora explicou que a língua carrega consigo formas de pensar e de viver e geram valores que se perdem quando simplesmente fazemos a tradução. Ela exemplificou brilhantemente dizendo que em quéchua as saudações estão centradas no sujeito em não no tempo como nas línguas mais populares. Ela disse que não se traduz uma saudação nessa língua para buenos días/buenas tardes/buenas noches porque tem relação com o estado da pessoa e não com o tempo. Daí ela explicou o cuidado com a terra que é pacha mama (tradução livre: mãe terra) e que isso implica em preservação desde la niñez.

Numa perspectiva sociohistórica a professora Julieta Zurita apontou como sendo os principais fatores que incidem na extinção de línguas e povos: a política dos Estados nacionais, com a conceção de territórios indígenas para mineração, pecuária, indústria madeireira e exploração das florestas; as mudanças climáticas provocadas pela ação exploratória desmedida e acumulatória e a ameaça sobre a existência dos falantes nativos.

O 3º Fórum da Terra como princípio educativo segue com uma vasta programação que inclui atividades em aldeias indígenas e assentamentos quilombolas , rodas de conversa e oficinas.