Giuliana Severo / Equipe de Comunicação Popular da JURA

“Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional e a Retomada do Desenvolvimento no Brasil”, esse foi o tema da roda de conversa que aconteceu na feira “Saberes e Sabores da Terra”, realizada na praça Alencastro, Centro de Cuiabá. As conversas foram conduzidas pela estudante de Nutrição da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Victória Ramos, e contou com a participação da antropóloga e assessora da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE), Maria Emília Lisboa Pacheco, e dos educadores da FASE, Franciléia Paula de Castro e Leonel Wohlfahrt.

A feira “Saberes e Sabores da Terra” ocorreu nos dias 12 e 13 de maio e integra a Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (JURA), que se estende até o mês de setembro com várias ações sob o tema “Reforma Agrária Popular e Projeto de País”.

De acordo com Franciléia, cerca de 20 milhões de brasileiros estão atualmente em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passando fome. Ela afirmou também que a maior parte desta estatística é de pessoas negras; e que os lares chefiados por mulheres negras têm duas vezes mais chances de estarem nesse estado.

“Não dá pra gente pensar em construir propostas de sistemas alimentares e propostas governamentais que não se comprometam de fato em enfrentar o problema do racismo no Brasil e principalmente garantir alimentação, educação e trabalho para a população negra neste país”, declarou.

Já Maria Emília acredita no direito ao gosto e no direito à alimentação saudável. Durante a roda de conversa, ela contou a história do arroz vermelho, que veio do continente africano junto com as mulheres negras e escravas e citou a importância de quebrar os preconceitos e conhecer os alimentos e suas origens.

“O arroz (vermelho) que as mulheres negras e escravas trouxeram dentro de seus cabelos é de extrema riqueza nutricional, mas a Coroa Portuguesa proibiu o seu plantio. A importação do arroz da Ásia era mais importante para eles, e é por isto que o arroz vermelho já foi até considerado uma praga!”, explicou.

Projeto popular – O também educador Leonel Wohlfahrt destacou a necessidade da criação de um projeto popular que permita conversas com os pequenos agricultores, para que se crie uma política pública que luta pela reforma agrária, pela garantia dos direitos territoriais, pela justiça ambiental e propagação da agroecologia e dos conhecimentos tradicionais.

Para ele, estar presente em uma feira com agricultores que buscam pelos seus direitos e por soluções ecológicas e sustentáveis é um grande marco e cria a esperança de um outro tipo de desenvolvimento dentro do estado de Mato Grosso.

“Eu acho que pra gente garantir segurança e, quem sabe um dia a soberania alimentar, a gente precisa transformar o nosso projeto em projeto popular. E o popular é conversar com o povo; acho que aí a gente vai ter um avanço”, concluiu.